Mil novecentos e oitenta e
seis, ano de mudanças para o Brasil, para mim e para muitos dos meus amigos.
Nova República; nova moeda;
o Cruzado; Sarney Presidente; o Rock brazuca tomando conta do País e de uma
geração; o Rock gaúcho começando a ocupar seu espaço e o Rock inglês tomando
conta do mundo.
Eu, então com 19 anos, vivi
muito desta efervescência, apesar deste ano ter sido totalmente atípico para
mim, pois prestei o serviço militar obrigatório, isso mesmo, fui milico, ‘reco’,
durante 1 ano e 26 dias.
Apesar de ter acontecido
contra a minha vontade, vivi grandes aventuras e fiz amigos para uma vida
inteira.
Nesta época, meus amigos e
eu, tínhamos uma espécie de Quartel General, para nos encontrarmos, sem agenda,
sem compromisso, pintava lá e encontrava um camarada ou vários, para tomar uma
ceva gelada, bater um papo e dar uma “formigada nas minas” e também marcar uma
banda na night.
O quartel general que me
referi anteriormente, era a sorveteria do Seu João velho camarada, da Roselaine,
amiga, gente boa e mãe do Casinha, filho do Casão, leia-se Gladimir e o próprio
e seu uniforme jaleco amarelo limão cítrico. A sorveteria ficava no seguinte
endereço: na “Júlio” quase esquina da Tamoio, ao lado do “X” do Mel e quase na
frente da casa da “mina do Daison” leia-se Simone, hoje esposa do Daison, mãe
do Alison e dos gêmeos Andrei e Andressa, uma bela família.
A história que vou contar, não
me lembro o mês, nem se era dia 10 ou dia 15, me lembro que era o inverno de
1986.
Sexta-feira a noite como de
costume estávamos na sorveteria bebendo umas “cevas”, além de mim, Daniel, ele
mesmo, Daniel animal, grande parceiro, Jorginho, hoje menino do Rio, Alfeu e
Fernando “Bozó”. Nessa época eles formavam a banda de Hard Rock Habeas Almas,
orquestrada pelo Daniel e suas composições politicamente corretas. O assunto da
mesa era um só, o show que o Habeas Almas faria no sábado junto com a banda Astaroth(Banda
de Heavy Metal, bastante conhecida nos anos 80 no estado), na cidade de
Carazinho, interior do estado, onde estava nosso amigo João Maurício, passando
uma temporada, digamos, para recuperar as energias e reorganizar as idéias.
Acontece, que ficamos até às
3 da manhã conversando e bebendo na sorveteria, e o ônibus que nos levaria até
Carazinho sairia da rodoviária de Porto Alegre às 7 da manhã e de fato saiu e
eu o perdi. Tentei abordá-lo na BR-116, junto à Estação Niterói do Trensurb, meus
camaradas que estavam no bus tentaram também, ambos sem sucesso. Fiquei ali
parado vendo o ônbus sumir na BR, sem poder fazer nada, uma grande frustração.
Voltei para casa decepcionado!! Tomei uma café e uma decisão: vou para
Carazinho!!!. Peguei o Trensurb e fui até a rodoviária em Porto, consegui
passagem de ida para o final da tarde, grana curta... vida de milico... mas
comprei a passagem!
Só sabia que o show era em
Carazinho, mais nada. Embarquei com a cara e a coragem de quando se tem 19
anos, e fui. Chegando lá, já era noite, um frio do car......o, perguntei a uma
garota que desembarcou comigo se ela sabia onde era o show. Por coincidência,
ela conhecia o João Maurício, mas não me recordo o nome dela, o namorado veio
apanhá-la no rodoviária, cara super
gente boa, me deu uma carona até o local do show.
De cara, encontrei o João
Maurício, logo em seguida, o Daniel, o Jorginho, Alfeu, Sérgio Gomes e a
esposa. Acho que tinham feito a passagem de som. Saindo de lá, fomos todos para
casa do Zé bombeiro, camarada do João Maurício, “uma figura”.
Chegando
lá tinha uma galera muito louca, muito legal e já rolava a “descontração”. A
convite do Zé bombeiro, a galera ficou baixada na baia do cara. Depois “dos
dois” deu àquela “larica”. Fomos todos, Habeas Almas e seu staff jantar num
restaurante por conta da organização do evento, aonde fomos apresentados à ala
feminina da cidade.
Alimentados, fomos para o
show, ceva liberada rock & roll e a mulherada...
Pela primeira vez, vi o
Jorginho no palco com a banda, o show matou a pau, do mesmo nível do Astaroth.
Meus camaradas estavam eufóricos e orgulhosos pelos aplausos do público e ao
mesmo tempo aliviados pela estréia do Jorginho como vocalista ter sido um
sucesso.
No show conheci uma loira
chamada Adriana, também amiga do João Maurício, uma gata, filha de um
fazendeiro plantador de arroz de Carazinho. Ficamos conversando e bebendo até o
final da festa. Ela estava de carro, coisa rara na época, me convidou para
tomar uma saideira, depois me levaria até a baia do Zé bombeiro. De cara
aceitei, mas como nada é perfeito “do nada” apareceu o Alfeu pedindo uma carona,
pois o Daniel já tinha saído de carona em outro carro e o Alfeu “ficou de
pernada”.
Fomos todos para baia do Zé
bombeiro, um frio do C....., chegando lá estavam todos bebendo vinho “de
garrafão” e outros climas. Jorginho duro de Fanta, um amigo dando um xá-lá-lá
numa gata e eu na Adriana também.
Uma hora depois, todos foram
dormir exceto eu, um amigo e as “minas”, que estávamos na sala, quando resolvi ir
junto com a Adriana pegar mais vinho na cozinha, no caminho para cozinha
passamos por um quarto com a porta aberta e aí que me surge a figura do
Jorginho, deitado e dormindo na cama em uma posição fetal e tremendo de frio,
sem nenhum lençol e nenhum cobertor, quase num quadro de hipotermia. Adriana me
olha e diz: - Vamos colocar um cobertor nele! Senão vai morrer de frio!! Quando
ela abre o cobertor de lã para cobri-lo, num ímpeto, numa fração de segundo,
aquele corpo adormecido e cansado salta da cama quase que por instinto e se põe
de pé, numa posição de defesa, movimentando os braços como se fosse “Kwai Chang
Caine” – o monge Shaolin do seriado Kung Fu. Quando chamei-o pelo nome ele
despertou! Pediu desculpas pelo gesto, pegou o cobertor e voltou a dormir.
Peguei o vinho, quando
voltei para sala com a Adriana, e o tal amigo já havia se agigantado para cima da “mina” que
estava com ele, combinei com a Adriana, que tomaríamos o vinho no quarto, para
deixar os dois mais a vontade e nós ficarmos tranqüilos no quarto. Apaguei as
luzes e ficamos ali naquele clima “James Taylor”. Quando estávamos passando dos
entretantos para os finalmentes, a surpresa, Alfeu acorda e sai acendendo todas
as luzes da casa a procura de um remédio. Acabou com o clima, as mulheres, se inibiram,
se retraíram e resolveram ir embora para suas casas. O amigo e eu queríamos
“matar” o Alfeu, que naquele momento foi o legítimo, o autêntico “empata-foda”.
Naquela madrugada gelada só nos restava dormir, e foi o que fizemos.
No domingo, lá pelo meio
dia, a Adriana pintou lá na casa do Zé bombeiro, de motinho – TT125. Fomos dar
uma banda até a rodoviária para comprar a passagem de volta, chegando lá, o
susto, não tinha mais passagem para Porto Alegre. Bateu o terror, pois tinha que
estar no quartel na segunda as 7 da manhã. Voltei para avisar os guris e tentar
uma carona, que não rolou.
Resolvi voltar na
rodoviária, me identificar como militar e tentar um jeito de voltar, fomos eu e
o Jorginho, chegando lá, fui ao gerente da rodoviária e disse: “Sou militar,
estou de serviço e tenho prioridade no embarque”, e o Jorginho de pronto falou:
“Eu também”. O gerente aceitou o “71” ,
porém teríamos que ir num bus pinga-pinga, e de “pé”, pois não tinha mais
lugares vagos. Aceitamos, uma penitência, “vamos combinar” seis horas de pé num
bus pinga-pinga, é para f..., e ainda atrasou, chegamos a uma hora da manhã na
rodoviária de Porto Alegre, esperamos mais um tempo o outro bus para vir até
Niterói, fui dormir as 3 da manhã, exausto, para levantar às 6, ir para o
quartel e tirar 24horas de guarda.
Mas, valeu!!! Tanto que mais
de 20 anos depois estou aqui escrevendo esta história minha e dos meus amigos.
Nunca mais falei com a
Adriana. Soube que o Zé bombeiro subiu, virou uma estrela. O João Maurício,
encontrei o ano passado. O Alfeu, vejo vez em quando. O Jorginho ,
mesmo morando no Rio, o Daniel em Canoas e eu em Porto Alegre sempre estivemos
juntos, nestes mais de vinte anos, mais que amigos, irmãos.
Janeiro de 2007 – Faço 40
anos no último dia deste mês, o tempo não pára, mas continuo acreditando
naquela música do Apocalipse.
... ♫
amizade, igualdade, coisas de irmão!!! Seja branco ou preto, amarelo ou não... ♫
...
Marcelo Gonçalves
Verão 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário