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Habeas Almas

terça-feira, 10 de abril de 2018

1986 – O Ano que Mudou Nossas Vidas


                   Mil novecentos e oitenta e seis, ano de mudanças para o Brasil, para mim e para muitos dos meus amigos.
                   Nova República; nova moeda; o Cruzado; Sarney Presidente; o Rock brazuca tomando conta do País e de uma geração; o Rock gaúcho começando a ocupar seu espaço e o Rock inglês tomando conta do mundo.
                   Eu, então com 19 anos, vivi muito desta efervescência, apesar deste ano ter sido totalmente atípico para mim, pois prestei o serviço militar obrigatório, isso mesmo, fui milico, ‘reco’, durante 1 ano e 26 dias.
                   Apesar de ter acontecido contra a minha vontade, vivi grandes aventuras e fiz amigos para uma vida inteira.
                   Nesta época, meus amigos e eu, tínhamos uma espécie de Quartel General, para nos encontrarmos, sem agenda, sem compromisso, pintava lá e encontrava um camarada ou vários, para tomar uma ceva gelada, bater um papo e dar uma “formigada nas minas” e também marcar uma banda na night.
                   O quartel general que me referi anteriormente, era a sorveteria do Seu João velho camarada, da Roselaine, amiga, gente boa e mãe do Casinha, filho do Casão, leia-se Gladimir e o próprio e seu uniforme jaleco amarelo limão cítrico. A sorveteria ficava no seguinte endereço: na “Júlio” quase esquina da Tamoio, ao lado do “X” do Mel e quase na frente da casa da “mina do Daison” leia-se Simone, hoje esposa do Daison, mãe do Alison e dos gêmeos Andrei e Andressa, uma bela família.
                   A história que vou contar, não me lembro o mês, nem se era dia 10 ou dia 15, me lembro que era o inverno de 1986.
                   Sexta-feira a noite como de costume estávamos na sorveteria bebendo umas “cevas”, além de mim, Daniel, ele mesmo, Daniel animal, grande parceiro, Jorginho, hoje menino do Rio, Alfeu e Fernando “Bozó”. Nessa época eles formavam a banda de Hard Rock Habeas Almas, orquestrada pelo Daniel e suas composições politicamente corretas. O assunto da mesa era um só, o show que o Habeas Almas faria no sábado junto com a banda Astaroth(Banda de Heavy Metal, bastante conhecida nos anos 80 no estado), na cidade de Carazinho, interior do estado, onde estava nosso amigo João Maurício, passando uma temporada, digamos, para recuperar as energias e reorganizar as idéias.
                   Acontece, que ficamos até às 3 da manhã conversando e bebendo na sorveteria, e o ônibus que nos levaria até Carazinho sairia da rodoviária de Porto Alegre às 7 da manhã e de fato saiu e eu o perdi. Tentei abordá-lo na BR-116, junto à Estação Niterói do Trensurb, meus camaradas que estavam no bus tentaram também, ambos sem sucesso. Fiquei ali parado vendo o ônbus sumir na BR, sem poder fazer nada, uma grande frustração. Voltei para casa decepcionado!! Tomei uma café e uma decisão: vou para Carazinho!!!. Peguei o Trensurb e fui até a rodoviária em Porto, consegui passagem de ida para o final da tarde, grana curta... vida de milico... mas comprei a passagem!
                   Só sabia que o show era em Carazinho, mais nada. Embarquei com a cara e a coragem de quando se tem 19 anos, e fui. Chegando lá, já era noite, um frio do car......o, perguntei a uma garota que desembarcou comigo se ela sabia onde era o show. Por coincidência, ela conhecia o João Maurício, mas não me recordo o nome dela, o namorado veio apanhá-la no rodoviária,  cara super gente boa, me deu uma carona até o local do show.
                   De cara, encontrei o João Maurício, logo em seguida, o Daniel, o Jorginho, Alfeu, Sérgio Gomes e a esposa. Acho que tinham feito a passagem de som. Saindo de lá, fomos todos para casa do Zé bombeiro, camarada do João Maurício, “uma figura”.
Chegando lá tinha uma galera muito louca, muito legal e já rolava a “descontração”. A convite do Zé bombeiro, a galera ficou baixada na baia do cara. Depois “dos dois” deu àquela “larica”. Fomos todos, Habeas Almas e seu staff jantar num restaurante por conta da organização do evento, aonde fomos apresentados à ala feminina da cidade.
                   Alimentados, fomos para o show, ceva liberada rock & roll e a mulherada...
                   Pela primeira vez, vi o Jorginho no palco com a banda, o show matou a pau, do mesmo nível do Astaroth. Meus camaradas estavam eufóricos e orgulhosos pelos aplausos do público e ao mesmo tempo aliviados pela estréia do Jorginho como vocalista ter sido um sucesso.
                   No show conheci uma loira chamada Adriana, também amiga do João Maurício, uma gata, filha de um fazendeiro plantador de arroz de Carazinho. Ficamos conversando e bebendo até o final da festa. Ela estava de carro, coisa rara na época, me convidou para tomar uma saideira, depois me levaria até a baia do Zé bombeiro. De cara aceitei, mas como nada é perfeito “do nada” apareceu o Alfeu pedindo uma carona, pois o Daniel já tinha saído de carona em outro carro e o Alfeu “ficou de pernada”.
                   Fomos todos para baia do Zé bombeiro, um frio do C....., chegando lá estavam todos bebendo vinho “de garrafão” e outros climas. Jorginho duro de Fanta, um amigo dando um xá-lá-lá numa gata e eu na Adriana também.
                   Uma hora depois, todos foram dormir exceto  eu, um amigo e as “minas”, que estávamos na sala, quando resolvi ir junto com a Adriana pegar mais vinho na cozinha, no caminho para cozinha passamos por um quarto com a porta aberta e aí que me surge a figura do Jorginho, deitado e dormindo na cama em uma posição fetal e tremendo de frio, sem nenhum lençol e nenhum cobertor, quase num quadro de hipotermia. Adriana me olha e diz: - Vamos colocar um cobertor nele! Senão vai morrer de frio!! Quando ela abre o cobertor de lã para cobri-lo, num ímpeto, numa fração de segundo, aquele corpo adormecido e cansado salta da cama quase que por instinto e se põe de pé, numa posição de defesa, movimentando os braços como se fosse “Kwai Chang Caine” – o monge Shaolin do seriado Kung Fu. Quando chamei-o pelo nome ele despertou! Pediu desculpas pelo gesto, pegou o cobertor e voltou a dormir.
                   Peguei o vinho, quando voltei para sala com a Adriana, e o tal amigo  já havia se agigantado para cima da “mina” que estava com ele, combinei com a Adriana, que tomaríamos o vinho no quarto, para deixar os dois mais a vontade e nós ficarmos tranqüilos no quarto. Apaguei as luzes e ficamos ali naquele clima “James Taylor”. Quando estávamos passando dos entretantos para os finalmentes, a surpresa, Alfeu acorda e sai acendendo todas as luzes da casa a procura de um remédio. Acabou com o clima, as mulheres, se inibiram, se retraíram e resolveram ir embora para suas casas. O amigo e eu queríamos “matar” o Alfeu, que naquele momento foi o legítimo, o autêntico “empata-foda”. Naquela madrugada gelada só nos restava dormir, e foi o que fizemos.
                   No domingo, lá pelo meio dia, a Adriana pintou lá na casa do Zé bombeiro, de motinho – TT125. Fomos dar uma banda até a rodoviária para comprar a passagem de volta, chegando lá, o susto, não tinha mais passagem para Porto Alegre. Bateu o terror, pois tinha que estar no quartel na segunda as 7 da manhã. Voltei para avisar os guris e tentar uma carona, que não rolou.
                   Resolvi voltar na rodoviária, me identificar como militar e tentar um jeito de voltar, fomos eu e o Jorginho, chegando lá, fui ao gerente da rodoviária e disse: “Sou militar, estou de serviço e tenho prioridade no embarque”, e o Jorginho de pronto falou: “Eu também”. O gerente aceitou o “71”, porém teríamos que ir num bus pinga-pinga, e de “pé”, pois não tinha mais lugares vagos. Aceitamos, uma penitência, “vamos combinar” seis horas de pé num bus pinga-pinga, é para f..., e ainda atrasou, chegamos a uma hora da manhã na rodoviária de Porto Alegre, esperamos mais um tempo o outro bus para vir até Niterói, fui dormir as 3 da manhã, exausto, para levantar às 6, ir para o quartel e tirar 24horas de guarda.
                   Mas, valeu!!! Tanto que mais de 20 anos depois estou aqui escrevendo esta história minha e dos meus amigos.
                   Nunca mais falei com a Adriana. Soube que o Zé bombeiro subiu, virou uma estrela. O João Maurício, encontrei o ano passado. O Alfeu, vejo vez em quando. O Jorginho, mesmo morando no Rio, o Daniel em Canoas e eu em Porto Alegre sempre estivemos juntos, nestes mais de vinte anos, mais que amigos, irmãos.
                   Janeiro de 2007 – Faço 40 anos no último dia deste mês, o tempo não pára, mas continuo acreditando naquela música do Apocalipse.
                   ... ♫ amizade, igualdade, coisas de irmão!!! Seja branco ou preto, amarelo ou não... ♫ ...



Marcelo Gonçalves
                                                                                                   Verão 2007

sábado, 4 de julho de 2009

Hoje mais uma Festa da Turma

É isso aí gurizada medonha... Hoje vai rolar mais uma grande festa da nossa turma de amigos. Vai ser no CSSSGAPA em Canoas próximo a Base Aérea.
Infelizmente não tive tempo para organizar nenhum showzinho desta vez. Mas na próxima prometo que deverá rolar algum som.
Tenho andado extremamente atarefado no trabalho e não tem sobrado tempo nenhum para dedicar a música.
O ingresso da festa custará 20 reais e pode ser acertado na hora com o Nando.
É isso aí galera, todos lá e depois eu posto aqui as fotos e os detalhes da festa.
Boa Festa a todos.... Valeu

segunda-feira, 16 de março de 2009

Rock Canoense dos Anos 80

Sexta-feira passada (13/03/09) tivemos mais uma confraternização da nossa turma com futebol e churrasco na quadra do Valdir. Depois de uma partida disputadíssima, em meu time perdeu por 5 X 4 saboreamos o tradicional churrasco assado pelo Ximba.

Show de bola, encontrar os amigos, tomar umas geladas, contar e ouvir piadas,   tocar  os velhos (e novos) sons no violão, ouvir o Belcino tocar suas músicas, realmente tudo isso não tem preço.

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No sábado encontrei o Nando, Nato, Rafael e Emílio no Bar do Amadeo. Mais uma rodada de cerveja e a boa conversa sobre futebol, amenidades e os problemas do universo.

Um pouco mais tarde chegou o Duda. Camarada ‘das antigas’, ex-vocalista da banda Anhanguera (ou seria Mandrágora). Pois foram algumas horas regadas a cerveja e história divertidíssimas lembradas com precisão pelo Duda.

 

A essas alturas estávamos apenas Eu, Nato, Duda e Rafael. Como é bom reviver, rememorar toda aquela magia que envolveu os anos 80 em Canoas. A explosão de bandas que culminou com o nosso Woodstock no parque capão do Corvo. Duas edições de uma amostra cultural que na segundo evento chegou a reunir cerca de 10 mil pessoas, segundo os jornais da época.

O Duda relembrava tudo com direito a datas e detalhes que eu e o Nato já havíamos esquecido. O Rafael é da ‘Nova Geração’  (parece coisa de Star Trek) mas também se divertiu com toda essa riqueza de acontecimentos que vivenciamos nos anos 80. E que memória do Duda, uma enciclopédia ambulante do rock de Canoas.

 

Impossível esquecer algumas passagens da história do rock Canoense da década de 80. Como o dia em que num show na rua primeiro de maio em Niterói, em que a chuva forçou a todos (músicos e platéia) a debandarem do local indo se abrigar embaixo de marquises ali por perto. Mas o Duda no vocal e o Paulinho na bateria não se entregaram. Continuaram no palco interpretando se não me engano “Child in Time” do Deep Purple , numa versão realmente acústica pois os microfones já estavam desligados. E o Duda todo molhado no palco mandando ver no Ian Gillan.  O Paulinho tocava protegido da chuva pela cabeleira armada que ostentava na época. Sensacional.

 

Outro momento mágico relembrado pelo Duda foi  o show de bandas que ocorreu em 1984 no Colégio Carlos Chagas. Desse show, quando eu tocava com o Apocalipse, eu lembro apenas fragmentos tendo em vista que o litro de Batida de Coco que compartilhei com o resto da banda antes do show me impediram de armazenar todos os bytes relacionados ao evento. Lembro de relance que lá pelo fim do show saltei do palco e andei no meio do público tocando guitarra sem ao menos me importar quantos metros de cabo eu tinha de folga prá me movimentar. Foi nesse show que ‘roubaram’ um pedal Sound do Jairinho (hehehe).

A folclórica história de que o Jairinho trocou um pedal de guitarra por um tênis foi mais uma vez citada, desta vez pelo Duda. Diante de mais essa confirmação eu não tenho mais dúvida: Realmente aconteceu apesar do Jairo negar até hoje.

Lembramos de figuras carismáticas como o Antônio Gomes, Sérgio Gomes (o Duda lembrou de quando o Sérgio comprou o seu primeiro teclado , um Korg Poly 800 e que tocaram juntos nesta época). Lembramos do saudoso guitarrista André da banda Exílio. Lembro com nitidez do André mandando ver na guitarra, muitas vezes ‘prá lá de Marrakesch”  mas sem perder a técnica.

Foram citadas outras figuras ilustres como o guitarrista Marcelo Santos (que já tocou com Deus e todo o mundo),  o nosso amigo Chimia e sua performance incomparável de “Bete Balanço”. Lembramos da banda “Crise” que tinha Veveto, Gérson e Leandro Inox. Os caras faziam um som pesado muito legal. Na época o guitarrista Gérson já inovava na guitarra tirando timbres e riffs que me incitavam a ir atrás e descobrir como ele conseguia tirar aquela sonzeira.

 

Veio à memória as bandas experimentais Sem Tempo (com o baixista Marco Meira e o guitarrista Rogério, por onde andarão?). Mais tarde acho que eles formaram a Jazzida.  Tenho um cartaz antológico que anuncia um show triplo de “Crise”, “Apocalipse” e “Sem Tempo”. Prometo postá-lo aqui em breve.

Recordamos o magnífico som da banda Ato de Criação que tinha Sergio Gomes(teclados), Costa Lima(baixo), Geraldo Dutra (batera), Grande, Dinho entre outros. Os caras faziam algumas coisas experimentais de muito bom gosto. O vinil “Ato de Criação” hoje é uma raridade. Um dia ainda vou vender o meu em algum leilão milionário.

Relembramos também o Caldo de Cana com Vilsinho no vocal, A Contrabanda do Porongo que fazia uns acústicos sensacionais numa época em que nem se falava em Unplugged. A Além da terra do Pedrão na batera e Cia. Que som maluco os caras faziam, e que saudade de ouvir aquelas músicas.  Tinha também A Mandrágora, do Jairinho, A Manga Rosa.

Num tempo em que se fazia música com sentimento verdadeiro. Sem formulismos e nem comprometimentos mercadológicos, comerciais. Eram música visceral, autêntica, digna, verdadeira.

Lembramos do grande amigo o batera Maurício que tocou com muitos dos músicos citados aqui, inclusive tocou comigo e o Jorginho no saudoso  Terrasse Itália. O Maurício batera nos proporcionou uma festa incrível na sua casa há alguns anos. Foi a reunião dos Dinossauros do Rock de Canoas. Estavam muitas dessas figuraças aqui citadas neste evento.  Rolou Jam prá tudo quando é lado.

Muita a pretensão a minha querer resumir todos aqueles anos em algumas linhas aqui sem cometer injustiça de não citar um ou outro personagem importante daquela época.

Mas prometo retomar essas lembranças em próximos posts. Quem tiver material, fotos, cartazes. Escaneia e me manda que publico aqui.

 Encerramos a noite de sábado nos despedindo e combinando de nos encontrar (como sempre) ali no Bar do Amadeo (Fioravante esquina Vítor Barreto, centro de Canoas) num sábado qualquer para repartirmos boas recordações sobre os velhos tempos do rock canoense.

 

 

 

domingo, 8 de março de 2009

Tchau Zé

A correria de trabalho que estou vivendo ultimamente atrasou a postagem deste triste post.
Esta semana faleceu nosso amigo José Ângelo, o Zé Bolt. Amigo de longa data, nos deixou subitamente ao que tudo indica de infarto.
Conheci o Zé no Colégio São Paulo, acho que já no primeiro ano que passei a estudar naquele colégio, na 5ª série em 1977.
Neste nosso blog da turma cito o Zé Bolt em vários posts pois ele foi um dos primeiros integrantes da nossa turma de amigos.
O Zé estudou comigo durante vários anos, e sempre foi um dos mais recatados da turma. Ficava na dele quando bagunçávamos as aulas de arte da antipática irmã Sílvia. Lembro nitidamente de um dia, lá pela sétima série do ginásio, em que a tal freira se atrasou numa de suas aulas.
Quando ela chegou a sala parecia ter sido alvo de um furacão. Era papel prá todo lado, tinham arrancado os espelhos da tomadas de luz e até invertido a gaveta da mesa dela.
O Vládi ainda puxando o blusão, tentava se soltar da janela em que estava preso. O ápice do motim foi quando alguém enfiou uma lixeira plástica na cabeça de um CDF da sala.

Lembro do Zé quieto, na dele. Apesar de ser nosso amigo, não participou daquela 'revolução' que felizmente não teve maiores consequências.
Em seguida me vêm a lembrança das piscinas do clube Grêmio Niterói. O indispensável calção Lightining Bolt que lhe deu o apelido, e aquele jeito peculiar do magrão de rir.

São lembranças esparsas que vem direto da adolescência pois infelizmente fazia anos que eu não tinha contato com o Zé.

Quando recebi o e-mail com a notícia nesta semana percebi o quanto somos frágeis, o quanto o tempo já passou desde aqueles verdes anos em que a velhice e a morte eram utopias distantes de nossa realidade.

É meus amigos, o tempo é implacável e vai recolhendo-nos durante sua trajetória prá quem sabe um dia nos colocar de novo próximos outra vez.

Gostaria de citar aqui algumas manifestações que circularam por email, relacionadas a morte do amigo Zé Bolt:

"Galera, realmente muito lamentável o fato, principalmente por eu ter estudado com o Zé nas primeiras séries no colégio São Paulo e depois nos reencontrarmos na adolescência fazendo parte da nossa turma. Curiosamente estava neste fim de semana na praia, e num daqueles momentos em que nossa mente insiste em voltar ao passado lembrei dele, me questionando onde andaria, e sempre que me lembro do Zé inevitavelmente me lembro de uma história que o Nenê contava, quando uma vez foram perseguidos (...), o Zé estava pilotando sua moto com o Nenê na carona e toda vez que iam entrar em uma rua para despistar ele corretamente ligava o pisca, indicando para onde iriam, história que nos rendeu por várias vezes muitas e boas risadas."
Daison


"Galera é com grande emoção que recebi esta notícia ontem através de e-mail pela Rosângela. Conheci o Zé Bolt em 1977 quando éramos colegas de aula juntamente com o Daniel. Desde então éramos parceiros de várias modalidades de esportes: Bike (caloi 10) éaramos eu e ele que montávamos nossas próprias bikes e skates (speedo) e na época o Marinha estava sendo inaugurado ou reformado não lembro ao certo, mas quem estava lá éra sempre eu e ele... gritando Snakeee e saiam da frente.
O apelido Zé Bolt pegou porque nós usávamos os velhos shorts da Lighting Bolt e curtíamos a piscina do Nit (bons tempos). A Rosana, Cleusa, Cátia, Angela, Tânia e a Rosangela (se não me engano também) faziam parte da turma, os marmanjos eram eu (Vladi) o José Ângelo (Zé Bolt - ele e o Pedro são meus primos segundo grau), Daniel, Joni, Miltinho, Paulinho, Rubens e claro os mano Nenê,Toninho que na época éram os bambas de moto (o Nenê e o Toninho nos deram um susto - sofreram um acidente feio de moto) e o Nato...
...Que Deus nos abençoe e que nosso amigo esteja em paz juntamente com outros que já nos deixaram prematuramente em especial o Nenê."
Vládi


"Puxa amigos,infelizmente é com muita tristeza que venho a todos neste momento.Como disse o Daniel, eu também há muitos anos não tinha mais contato com o Zé, mas era um grande amigo e parceiro de todas nos áureos tempos das noitadas (bons tempos) em Niterói. Sabemos que esse destino esta traçado para todos nós, mais é chocante quando acontece com um amigo, e principalmente de tão pouca idade como era o Zé, que ainda tinha muita coisa por fazer.Meus sentimentos a todos amigos e familiares."
Arlei (Boca)

"Transmitam a família os meus mais profundos pesames.
Nestas horas a gente não tem muito o que dizer, apenas desejar que Deus acolha de braços abertos a chegada deste irmão. "
Nando



"Fui vizinho do Zé na Júlio, inclusive aquele skate speedo acabei ficando com ele em troca de uma bola de basquete.
A última vez que falei com o Zé estávamos fazendo a academia Mappi, faz uns 4 ou 5 anos isto.
Partem os amigos e ficam as lembranças."

Marcão


Que Deus ilumine o espírito de nosso amigo e conforte seus familiares.

Zé, já estamos com saudades, fica com Deus. Dá um abraço no Nenê e no Maribinha quando chegar aí em cima...

Daniel Elói P Oliveira

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Encontro Inesperado Em Tramandaí



Na foto acima estão: (De pé ao fundo) Moisés (meu irmão), Nenê (na porta), Cisa (minha irmã). Sentados estão: Daniel (Eu, com o violão), Mara, Toninho(de vermelho), Joní (bem a frente), minhas sobrinhas Márcia, Fátima e Joseane, depois vem Adriana e Zé Bolt. (Eu sei, a foto tá ruinzinha, mas não vamos esquecer que as câmeras digitais não haviam sido inventadas ainda e esta câmera que bateu essa foto devia ser uma das mais baratinhas da época).




Passadas algumas décadas, me esforço para lembrar das circunstâncias que antecederam aquele encontro da turma em Tramandaí que resultou nestas duas fotos que apresento aqui.

Depois de tanto tempo a memória vai me traindo e, por mais que eu me esforce para achar o fio da meada e desenvolver um texto com começo, meio e fim sobre mais essa passagem de nossa juventude, o que me vem a lembrança são apenas fragmentos de mais essa passagem mágica de nossas vidas.

Lembro que eu estava com minha família acampado de barraca ao lado da casa de um parente. Não sei muito bem como foi que conseguimos combinar um encontro com a galera por lá, parece que o Nenê, o Toninho, a Mara, O Zé Bolt e a Adriana estavam na casa de alguém numa praia ao lado ou alguma coisa equivalente a isso.

O Joní, eu confesso que não tenho a mínima idéia de como foi parar lá. Faz algum sentido supor que ele estava como meu convidado pois além de grande amigo de longa data, éramos vizinhos muito próximos na rua Quaraí em Niterói.


Como já falei no início, lembro muito pouco deste encontro da galera em Tramandaí. O que mais forte me vem à lembrança é o aluguel da carroça da foto aqui de baixo.

Eu já tinha alugado por aqueles dias um cavalo para cavalgar na beira da praia, e lembro que voltei nos caras que alugavam os animais com o Toninho e, me parece que por sugestão dele, terminamos optando pela carroça.

O pangaré que puxava o primitivo veículo logo de início já mostrou que a volta pelo centro do balneário não seria muito animada. O bicho andava se arrastando. Não sei se era velho, se estava cansado ou se era preguiçoso mesmo.

O fato é que durante o interminável trajeto de ida e volta à tal 'locadora' de cavalos, eu oscilava entre rir e ficar envergonhado por estar atraindo olhares e risos dos veranistas de Tramandaí.


O ápice da tour pela cidade foi quando o tal pangaré estaqueou numa esquina e simplesmente não se mexeu mais. Não sei se era por cansaço, se demos algum comando errado nas rédeas, ou mesmo se o bicho tava tirando alguma onda com a nossa cara.

O fato é que depois de gritar, sacudir a carroça, e até de exercer alguma fustrada psicologia animal, descemos da carroça e aplicamos o método mais utilizado para desobstruir o trânsito: O empurrão.


Se fosse um carro, soltaríamos o freio de mão e ficaria fácil de empurrar. Mas o danado do cavalo travou as patas no asfalto e tivemos que colocar força prá valer até conseguir levá-lo pro acostamento.

E os carros buzinando atrás de nós, alguns já impacientes com aquele estorvo no trânsito, outros sacudindo a cabeça e rindo da nossa cara. O resto do trajeto de volta parece que fomos ao lado da carroça à pé, puxando o animal pelas rédeas, a passo de lesma.

No mais, lembro da imensa tristeza que me deu quando o pessoal começou a ir embora. No fundo eu sabia que era mais um momento iluminado de nossa juventude que se encerrava , mas que ficaria guardado numa daquelas gavetas do passado que toda vez que abrimos nos traz um sorriso nos lábios.

Na foto acima, Eu (Daniel), Cisa e Toninho . Ao lado da carroça estão minha mãe e minha sobrinha.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Nos Tempos da Sorveteria Badauê

" Fala meu amigo Daniel,Achei uma foto no meu arquivo que foi tirada na Sorveteria BADAUÊ,da minha prima Roselaine e meu grande amigo Gladimir(Kazão) acho que lá pelos anos 80, nela estão grandes amigos. Sentados na frente:Jorginho,menino não identificado, e eu Silvio(jacaré) logo atrás Nando,Kiki,moça da mesa não identificada,Daison,não consegui lembrar o nome do garoto ao lado dele.Atrás de Pé:Roselaine,Mauro(meu irmão)não consegui lembrar do nome do garoto ao lado dele e Sandrinho que trabalhava com o Kazão.Bons tempos meu amigo Daniel.

Gostaria que você colocasse esta foto no Blog da galera.
Abraço,Silvio Oliveira(Jacaré)"

Que saudades dos tempos da soveteria Badauê na Júlio de Castilhos no Bairro Niterói em Canoas. Ali foi o grande ponto de encontro de nossa turma durante um bom tempo.
E que grata surpresa eu ter recebido esse mail do meu grande amigo Sílvio Jacaré. Parceirão de vários porres e discussões filosóficas sobre a vida, futebol, música, política e outros tantos assuntos que iam ganhando profundidade a medida que as garrafas de cerveja esvaziavam na mesa.
Lembro que um dia tomei um tremendo porre com o Jacaré na Sorveteria e depois fui prá casa cambaleando. No outro dia a Ana (minha esposa) me descreveu com reprovação a cena que protagonizei chegando em casa. Eu tinha ficado alguns minutos tentando acertar o buraco da fechadura da porta da rua enquanto algumas notas de reais amassadas com a metade caindo prá fora do bolso denunciavam a bebedeira.

E essa foto que o Sílvio manda é muito legal . O cara bem a direita parece ser o grande Jerônimo 'Jejê', nosso amigo de longa data...

Valeu
Daniel Elói Pedroso de Oliveira

sábado, 21 de junho de 2008

O Foguete Quase Detonou....

Durante toda minha juventude morei no mesmo lugar: No prédio da Quaraí 83, próximo a BR116, no Bairro Niterói em Canoas. Para os mais antigos o local era conhecido como 'antiga 19' numa referência ao movimentado ponto de ônibus que havia ali. Na verdade esta expressão 'antiga 19' ficou também conhecida para indicar essa região do bairro que era reconhecidamente marcada por brigas, roubos e outros eventos violentos que invariavelmente exigia a presença policial.

Neste cenário, eu e meus irmãos nos criamos e aprendemos a conviver com pessoas de todo tipo, desde aqueles que apesar das imensas dificuldades se dedicavam ao trabalho honesto como também aos que preferiam sustentar-se à margem da lei e cometiam desde delitos leves e até crimes mais graves.

Esta interação com os chamados 'bocas brabas' se dava no dia-a-dia fosse num jogo de futebol, numa conversa na esquina, numa roda de violão ou ainda no balcão da oficina de aparelhos eletrônicos de propriedade de meu pai . Para completar a biodiversidade daquele ambiente havia também os inquilinos das casas de aluguel que meus pais possuíam ao lado e aos fundos de minha residência. Na maioria gente trabalhadora e sofrida, sendo muitos oriundos do interior que vieram para a região metropolitana tentar uma sorte.

Aprendi ao longo deste convívio a ter um certo traquejo ao lidar com pessoas que em algumas situações se mostravam imprevisíveis e violentas. Tinha vezes que uma simples conversa descambava prá ofensa e daí prá porrada, sem falar nas vezes que alguém decidia mostrar a força de uma arma no exercício da retórica.

Mas engana-se quem acha que a ameaça de uma arma por si só implicaria no término de um debate. Não. Eu presenciei uma vez um cara no meio de uma discussão sobre música, futebol ou outra banalidade puxar a arma da cintura, engatilhar e colocar na cara de um outro colega como que dizendo:
--"E aí quem está com a razão agora?"
Naquele momento, embora eu fosse apenas espectador, senti a adrenalina subir e o natural instinto de sobrevivência me exigir que eu me fastasse logo. Mas o sujeito que foi intimidado, o Gordo, ficou sentado ali no meio-fio com a arma engatilhada na testa e,como se a situação estivesse sob controle continuou sustentando o seu ponto de vista no debate e ainda por cima provocou:
--" Se tu vai puxar essa merda atira duma vez."
O cara que sacara a arma, deu um sorriso e guardou-a. Até hoje eu me pergunto, se aquele gesto do Gordo era coragem ou certa banalização do valor da própria vida.

Como este acontecimento, presenciei vários outros que hoje reconheço, ao longo do tempo desenvolveram um mim um certo grau de vigilância que até hoje suscita brincadeiras dos amigos.

Quando mais tarde quando passei a estudar no Colégio São Paulo, escola particular, ampliei meu círculo de amizades passando a integrar uma turma de mesmo nível econômico e familiar que o meu. Nas festinhas que freqüentávamos, devido a minha experiência no tal 'ambiente hostil' já citado, eu era aquele que sempre alertava quando uma briga ou confusão estava na iminência de acontecer. Além deste 'sexto sentido' que nos livrou de algumas enrascadas justamente por ter nos dado uma certa dianteira na hora de correr, a minha residência, na rua Quaraí, me dava uma outra vantagem que na época fez uma grande diferença: Eu contava com algumas amizades que freqüentemente eram acionadas para me garantir a segurança fosse na saída da colégio ou de alguma festa. Analisando hoje, quando décadas já se passaram vejo que em alguns momentos exagerei na utilização de minha 'guarda particular'. Sobretudo porque 'comprei' algumas brigas que nem eram minhas.

Uma vez , no colégio um cara bateu no meu amigo Miltinho. Quando eu soube eu fui lá e dei um soco na cara do sujeito, sem nem ouvir a versão dele prá briga. Na seqüência, o tal cara arrumou uns amigos prá me pegar na saída do colégio. Consegui fugir no primeiro dia e como eu sabia que eles não iriam desistir, resolvi atacar. Peguei uns camaradas lá da Quaraí, se não me engano o Frega, o Muminha e uns outros e fomos até um bar onde os inimigos jogavam snooker, há algumas quadras do colégio.

O Frega entrou no bar e já foi provocando, não quis nem saber: pegou as bolas e foi colocando nas caçapas no meio do jogo dos caras. O primeiro que perguntou o que era aquilo levou uns tapas dele e do Muminha. Os outros se intimidaram e ficaram quietos.

Aí o Frega anunciou que se alguém se metesse comigo outra vez eles voltariam ali e bateriam em todos. Na saída ele ainda puxou um 'Chaco' da cintura, fez algumas evoluções desajeitadas enquanto mantinha no rosto um careta de mau.

Saí dali aliviado. De fato nunca mais vi aqueles caras nas imediações da escola.

Outra vez estávamos eu e meus amigos Nando e Beto caminhando pela Venâncio Aires, em direção à minha casa na Quaraí quando, ao passar pela frente de um bar uns caras gritaram:

--Porque que tão olhando seus 'vasilhas'?

Na época, a referência ao utensílio doméstico era o mesmo que chamar alguém de 'viado', ou seja, os caras nos ofenderam de graça e não poderíamos retrucar pois além de serem em maior número eram uma 'rafa' conhecida ali das imediações.

Ficamos quietos e seguimos nosso caminho.

Quando cheguei próximo a minha casa encontrei o Foguete (leia-se FUguete), um camarada ali da Quaraí que além de forte era bom de briga. Sobre este cara haviam histórias de briga que eram contadas por vários conhecidos ali da rua. Ele mesmo vivia contando as confusões em que batia nuns 3 ou 4. Relatos esses que sempre eram confirmados por outros que estavam na roda, o que não garante a veracidade pois desconfio que muitos tinham era medo de contestá-lo.

Contei então pro Foguete o que tinha acontecido e ele logo se prontificou a ir até o bar:

-- Eu vou lá e vocês me mostram os caras...

Concordamos pois o sangue ainda estava quente por termos sidos ofendidos sem termos feito nada que justificasse aquela provocação.
Quando chegamos no bar, o Foguete parou na frente da porta e perguntou:

-- São esses aí?

Antes que eu respondesse uns dois ou três já foram saindo e indo embora devagar pois conheciam o meu amigo e provavelmente a lenda que três ou quatro eram pouco prá ele.

Demorei um pouco prá responder pois já estava até com pena dos sujeitos. Mas também não podia deixar de indicar alguém pois nas próximas vezes o Foguete não se disporia a me ajudar.

Respirei fundo e falei:

--Aquele alemão ali...

Os mais corajosos que haviam sobrado no interior do bar perceberam a deixa prá se evadirem do local: Não era com eles, o alemão que se virasse.

De fato o cara que eu apontei foi o que tinha nos provocado.

O Foguete então avançou prá cima dele. Enquanto caminhava ele ia sacando um trezoitão prateado que estava escondido na cintura. Ato contínuo, ele colocou o canhão no rosto no alemão e falou:

-- Porque tu provocou o meu primo?

O coitado do sujeito se encolheu todo colocando as mãos entre a arma e sua cara de apavorado:

-- Pelo amor de Deus Foguete, não atira... Eu falei brincando, eu conheço o cara e até já fui na
casa dele. Eu estudei com o irmão dele...

Tanto eu quanto o Nando e o Beto ficamos totalmente surpresos pois não sabíamos que o Foguete estava armado. Imagina se ele atira no cara agora, nós vamos entrar numa fria sem tamanho... Que eu conhecia esse alemão até que era verdade, ele era um conhecido ladrãozinho das redondezas. Quanto a ele já ter ido na minha casa, bem, resolvi não contestar porque a situação estava prá lá de tensa. Vai que o Foguete dispara aquele troço... Já estava até me arrependendo de ter reclamado da provocação pro Foguete quando ele falou pro cara:

-- Então tu nunca mais faz isso. Porque se tu fizer eu te detono...

Depois disso, colocou de novo o trabuco na cintura, puxou a camisa por cima prá esconder a arma e ainda me perguntou:

-- Quer dar umas porradas nele?

Eu disse que estava satisfeito. Foguete fez um gesto com a cabeça nos convidando a ir embora. Ainda dei uma olhada prá trás e vi o alemão na mesma posição com os olhos fechados de pavor, todo encolhido com as mãos frente ao rosto colado na parede do bar.

Alguns anos depois eu soube que Foguete tinha sido assassinado a tiros.